segunda-feira, 13 de julho de 2015

Podendo ajudar...



Não dava para deixar de comentar sobre isso. Na verdade, eu não podia deixar esse desabafo para outra
hora.
É porque na vida, quando a gente resolve aceitar o que nos agride, acabamos por ver que não estamos sozinhos. Passamos de vítimas de nós mesmos a exemplo de luta.
Eu fui vítima das minhas angústias por muito tempo. E sei que por mais que algumas pessoas tentassem me ajudar, eu não queria ouvir, porque elas não sabiam o que se passava na minha vida.
Nasci para ser mãe. Nasci para construir uma família ao lado do meu marido. Eu tinha que ter um filho. Mas na minha ignorância, eu acreditei que em primeira instância tinha que gerar outra vida, o que me fez por algum tempo fechar os olhos para a ideia de ter um filho. O que para muitos vai parecer a mesma coisa, no final acaba-se descobrindo que não é.
Durante um bom tempo invejei a gestação, o milagre de carregar dentro de seu ventre outra vida, de ver seu corpo de transformar com tanto amor crescendo ali. E durante muito tempo sofri com os olhares piedosos de outras pessoas que diziam “logo sua hora chega”. Mas essa hora nunca chegou. E eu sofria.
Deixei então de curtir a gravidez de mulheres ao meu redor, tão queridas e necessárias. Deixei porque não queria ouvir que logo minha vez ia chegar. Mas minha vez não chegou. E eu chorava.
Perdi a esperança de ser mãe. Me calei. Afastei. Renunciei. E o pior, questionei.
Questionei porque eu não podia. Eu que tinha de tudo pra dar certo: casa, trabalho, família, bom marido, amor. Sim! Dentro de mim um amor imenso para poder dar ao meu filho e ele nunca chegava. Por que eu não podia? O que tinha feito eu a Deus para ele fazer isso comigo? Deus, por que tanta injustiça?
Enquanto via na televisão mães abandonando recém-nascidos nas noites frias de São Paulo, em becos, caçamba de lixo, envoltos em um fino cobertor, ainda sujos de sangue ou com o cordão umbilical, me revoltava porque tinha uma casa boa para acolher um filho que jamais passaria frio. Claro que parei de assistir televisão.
E claro também que me tranquei no quarto, não queria a companhia de conhecidos com seus olhares cheios de boas intenções. Não queria ninguém olhando para mim com pena porque não conseguia ter um filho.
Pena. Isso é algo que ninguém precisa. No final, ninguém é vítima. Eu me fiz.
O fato de não poder gerar um filho não queria dizer de forma alguma que eu não poderia ser mãe. Não era uma sentença.
O que me impedia de ser mãe eram minhas atitudes de auto piedade.  Era o meu egoísmo de achar que eu era a única mulher na face da Terra que sofria com isso, que ninguém me entendia, que o universo estava conspirando sim, mas que era contra mim.
Eu não podia mais viver naquele mundinho particular de sofrimento. A vida estava aí, aberta para ser encarada e vivida. A vida estava vindo ao meu encontro, me desafiando a ser alguém melhor e eu correndo justamente para o outro lado.
“Quer saber? Já que é pra escolher uma direção, que seja para frente. Sempre!”
Se eu soubesse que isso ia me ajudar a evoluir, teria tomado essa decisão antes. Aprender a ouvir e aceitar que tinha que mudar, não foi fácil. Eu admiti meus erros e procurei o que eles podiam me ensinar.
Eu calei, mas não de vergonha. Calei porque assim podia ouvir melhor o que as pessoas certas tinham a me dizer. E essas palavras edificaram a vitória, conquistada com muita alegria.
E então, meu marido me fez ver que amor de mãe e pai não precisa nascer só da barriga de uma mulher. Que ele também pode nascer de uma atitude, de um sorriso. Nosso futuro filho pode até não ter nosso sangue, mas vai ter nosso amor. Nosso futuro filho não vai ser gerado dentro de meu ventre, mas já está sendo gerado em nossos corações.
E aqui, caio no lugar comum ao dizer que, o caminho é longo. Mas se nele eu puder andar de mãos dadas com as pessoas que amo e ajudar quem sofre tudo o que sofri, não me fará mal algum esbarrar em algum espinho. 
É que toda grande batalha deixa algumas marcas.
Hoje eu não me envergonho mais das minhas.

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